“Eu também
sou mortal como todos os outros, descendente do primeiro ser que foi formado da
terra. Fui formado de carne no seio de minha mãe, e durante 9 meses me
solidifiquei no sangue, fruto do sémen de um homem e do prazer que acompanha o
sono. Quando
nasci, eu também respirei o ar comum. Caí sobre a terra que recebe a todos
igualmente e, como todos os outros, estreei minha voz chorando. Fui envolto em fraldas e cercado de
cuidados, porque nenhum rei começou a viver de outra forma. A entrada e a saída da vida é igual
para todos. Por isso, eu supliquei e a inteligência me foi dada. Invoquei, e o
espírito da sabedoria veio até mim. …eu a preferi aos ceptros e tronos e,
em comparação com ela, considerei a riqueza como um nada. (…) Amei a sabedoria mais do que a saúde
e a beleza, e resolvi tê-la como luz, porque o brilho dela nunca se apaga. Com
ela me vieram todos os bens, e em suas mãos existe riqueza incalculável. (…) Sem malícia, aprendi a sabedoria, e
agora a distribuo sem inveja nenhuma. Não vou esconder sua riqueza, porque ela é um tesouro inesgotável
para os homens. Aqueles que a adquirem, atraem a amizade de Deus, porque são
recomendados pelo dom da instrução dela. Deus me conceda falar com propriedade
e pensar de forma correspondente aos dons que me foram dados, porque ele é o
guia da sabedoria e o orientador dos sábios. Em seu poder estamos nós, as nossas palavras, a nossa
inteligência e as nossas habilidades. Ele me concedeu o conhecimento exacto de
tudo o que existe, para eu compreender a estrutura do mundo e a propriedade dos
elementos, o começo, o meio e o fim dos tempos, a alternância dos solstícios e
as mudanças de estações, os ciclos do ano e a posição dos astros, a natureza dos animais e o instinto
das feras, o poder dos espíritos e o raciocínio dos homens, a variedade das
plantas e a propriedade das raízes. Aprendi tudo o que está oculto e tudo o que
se pode ver, porque a sabedoria, artífice de todas as coisas, foi quem me
ensinou. Na sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, subtil,
móvel, penetrante, imaculado, lúcido, invulnerável, amigo do bem, agudo, livre, benéfico, amigo dos homens,
estável, seguro, sereno, que tudo pode e tudo abrange, que penetra todos os
espíritos inteligentes, puros e subtilíssimos. (…) Ela é reflexo da luz eterna, espelho nítido da actividade
de Deus e imagem da sua bondade. Embora seja única, ela tudo pode. Permanece sempre a
mesma, mas renova tudo, e entrando nas almas santas, através das gerações,
forma os amigos de Deus e os profetas.
(…)
Amem a
justiça, vocês que governam a terra. Pensem correctamente no Senhor e o
procurem de coração sincero. Pois Ele se deixa encontrar por aqueles que não o
tentam, e se manifesta para aqueles que não recusam acreditar nele. Os pensamentos tortuosos separam de
Deus, e o poder Dele, posto à prova, confunde os insensatos. A sabedoria não entra na alma que
pratica o mal, nem habita num corpo que é escravo do pecado. O espírito santo,
que educa, foge da fraude, afasta-se dos pensamentos insensatos, e é expulso
quando sobrevém a injustiça. A sabedoria é um espírito amigo dos homens, mas
não deixa impune quem blasfema com os lábios, porque Deus é testemunha de seus
sentimentos, observa de facto a sua consciência e ouve as palavras de sua boca. O espírito do Senhor enche o
universo, dá consistência a todas as coisas e tem conhecimento de tudo o que se
diz.
(…) Haverá investigação
sobre os projectos do injusto, e o rumor das palavras dele chegará até o
Senhor, e seus crimes ficarão comprovados. (…) Com gestos e palavras, os
injustos invocam a morte para si mesmos. Eles pensam que a morte é amiga e a
desejam ardentemente, chegando a fazer aliança com ela. São realmente dignos de
pertencer à morte. Raciocinando de forma errada, eles comentam entre si:
"Nossa vida é curta e triste: quando chega o fim, não há remédio, e não se
conhece ninguém que tenha voltado do mundo dos mortos. Nascemos por acaso, e
depois seremos como se nunca tivéssemos existido. Nossa respiração é fumaça, e
o pensamento é uma faísca produzida pelo pulsar do coração. Quando a faísca se
apaga, o corpo se transforma em cinza e o espírito se espalha como ar sem
consistência. Com o tempo, o nosso nome fica esquecido, e ninguém mais se
lembra do que fizemos. Nossa vida passa como rastro de nuvem, e se dissipa como
neblina expulsa pelos raios do sol e dissolvida pelo seu calor. Sendo assim,
vamos gozar os bens presentes e usar as criaturas com ardor juvenil. Vamos embriagar-nos com os melhores
vinhos e perfumes, e não deixar que a flor da primavera escape de nós.(…) Que nenhum de nós fique fora de nossas
orgias. Vamos deixar por toda parte sinais de nossa alegria, porque essa é a
nossa sorte e o nosso destino.Vamos oprimir o pobre inocente e não vamos poupar
as viúvas, nem respeitar os cabelos brancos do ancião. A nossa força será regra
da justiça, porque o fraco é claramente coisa inútil. Vamos armar ciladas para
o justo, porque ele nos incomoda e se opõe às nossas acções. O justo reprova as
transgressões que cometemos contra a Lei, e nos acusa de faltas contra a
educação que recebemos. Ele
declara ter o conhecimento de Deus, e se diz filho do Senhor. Ele se tornou uma condenação para os
nossos pensamentos, e somente vê-lo já é coisa insuportável. Sua vida não se
parece com a dos outros, e seus caminhos são todos diferentes. Ele nos considera moeda falsa e se
afasta de nossos caminhos para não se contaminar. Proclama feliz o destino dos
justos e se gaba de ter Deus como pai. Vejamos se é verdadeiro o que ele diz, e
comprovemos o que lhe vai acontecer no fim. Se o justo é filho de Deus, Deus
cuidará dele e o livrará da mão dos seus adversários. (…) Eles pensam assim, porém estão
enganados, porque a maldade deles os deixa cegos. Não conhecem os segredos de Deus, não
esperam o pagamento pela santidade, nem acreditam na recompensa das vidas puras. Sim, Deus criou o homem para ser
incorruptível e o fez à imagem da sua própria natureza. Mas, pela inveja e
maldade, entrou no mundo a morte, que é experimentada por aqueles que pertencem
ao Perverso. (…) Mesmo que tenham vida longa, ninguém fará caso deles, e sua
velhice no fim será sem honra. Se morrerem cedo, não terão esperança nenhuma,
nem consolação no dia do julgamento, porque é terrível o fim de uma geração
perversa.
“Quem tem olhos que entenda e quem tem ouvidos que compreenda.”
(Sabedoria, excertos)
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...perdoa a estrutura.
É fraca. Fortalece-a com a tua partilha.
Estás em casa. Senta-te. Demora-te. Fica para sempre. Só te peço que enquanto aqui estás...penses em ti.
Porque enquanto pensamos em nós pensamos em algo mais elevado do que somente estar.
...por isso quero que estejas e sejas tu própria/o.